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O QUE É CIÊNCIA - Do método científico às leis científicas

      Comecemos nossa investigação sobre a ciência buscando o significado básico dessa palavra. O termo ciência vem do latim scientia, que significa "conhecimento". Assim, como ponto de partida, podemos definir ciência como o campo da atividade humana que se dedica à construção de um conhecimento sistemático e seguro a respeito dos fenômenos do mundo.
      Por que dissemos "sistemático e seguro"? Por que a palavra conhecimento pode ser usada em um sentido geral (lato sensu) e em um sentido estrito (stricto sensu), que é o conhecimento sólido e bem fundamentado. Trata-se do que os gregos chamavam de episteme, o tipo de conhecimento que interessa à ciência. Por isso, a investigação sobre o conhecimento obtido pela ciência é conhecida como epistemologia.


Objetivos da ciência
    Nossa segunda questão pode ser: "Conhecer para quê"?
      Costuma-se dizer que é para tornar o mundo compreensível, proporcionando ao ser humano meios para prever situações e exercer controle sobre a natureza. Essa visão surgiu com a ciência moderna. Segundo Jacob Bronowski (1908-1974), matemático britânico de origem polonesa, pelo conhecimento científico, o "homem domina a natureza não pela força, mas pela compreensão" (Ciências e valores humanos, p. 16).
      Será isso possível? Será que a ciência alcança a compreensão que pretende, e o faz sem uso da força? Essas questões serão analisadas ao longo deste capítulo.


Método científico
    Vejamos agora o meio utilizado pela ciência, desde o início da Idade Moderna, para alcançar seus objetivos: o método científico.
      O que é método científico? O termo método vem do grego meta, "através" e hodos, "caminho", significando "através de um caminho", ou de um procedimento. Assim, método científico é o núcleo de procedimentos que orienta o modo de conduzir uma investigação científica. Há diversos conjuntos de procedimentos que caracterizam diferentes metodologias.

A observação, experimentação ou verificação é uma etapa importante de todo conhecimento científico. Mas é preciso considerar também que toda observação está sempre dirigida por uma "carga" teórica que o observador (o cientista) traz consigo.

      Embora variado, o método científico tem por base, de modo geral, uma estrutura lógica que engloba diversas etapas, as quais devem ser percorridas na busca de solução para o problema proposto.
      Vejamos um esquema das etapas do método científico experimental:
enunciado de um problema — observando fatos, o cientista enuncia um problema que o intriga e que ainda não foi explicado pelo conhecimento disponível. Nessa etapa, ele deve expor seu problema com clareza e precisão e procurar os instrumentos possíveis para tentar resolvê-lo;
formulação de uma hipótese — tentando solucionar o problema, o cientista propõe uma resposta possível, que constitui uma hipótese a ser avaliada em sua investigação. Isso significa que a hipótese é uma proposta não comprovada, que deve ser testada cientificamente;
testes experimentais da hipótese — o cientista testa a validade de sua hipótese, investigando as consequências da solução proposta. Essa investigação deve ser controlada por ele, para que o fator relevante previsto na hipótese seja suficientemente destacado na ocorrência do fato-problema;
conclusão — o cientista conclui a pesquisa científica, confirmando ou corrigindo a hipótese formulada e testada.


Outros ingredientes
    Observe, porém que, conforme assinalam alguns estudiosos, os métodos científicos não constituem sempre conjuntos fixos e estereotipados de atos a serem adotados em todos os tipos de pesquisa científica. Eles nascem da percepção de certos procedimentos recorrentes, mas que, por si só, não são suficientes para garantir o êxito de qualquer empreendimento.
      Os resultados satisfatórios de uma pesquisa estão sujeitos a um amplo conjunto de fatores, desde a natureza do problema pesquisado até os recursos materiais aplicados na pesquisa. Dependem, ainda, de elementos como o acaso e, sobretudo, da criatividade, imaginação e sagacidade do pesquisador.


Leis e teorias científicas
    Além de utilizar um método, os cientistas, depois de suas investigações, também formulam leis e teorias, principalmente dentro das ciências naturais, com destaque para a física. Nas ciências sociais esse modelo de investigação não é tão presente.
      Mas o que são exatamente as leis e teorias científicas?
      Analisando inúmeros fatos do mundo, percebemos a ocorrência de fenômenos regulares, como a sucessão do dia e da noite, das estações do ano, o nascimento dos seres vivos, a atração dos corpos em direção ao centro da Terra e outros.
      Para reconhecermos a ocorrência de regularidades, devemos observar os fenômenos semelhantes e classificá-los segundo duas características comuns. Ao examinar as regularidades, a ciência procura chegar a uma conclusão geral que possa ser aplicada a todos os fenômenos semelhantes.
      Por meio desse processo, formulam-se as leis científicas. Nesse sentido, leis são enunciados generalizadores que procuram apresentar relações constantes e necessárias entre fenômenos regulares.
      As leis científicas desempenham duas funções básicas:
• resumem uma grande quantidade de fenômenos regulares, favorecendo uma visão global do seu conjunto;
• possibilitam a previsão de novos fenômenos que se enquadrem na regularidade descrita.
      As leis costumam fazer parte de uma teoria científica, que "especifica a causa ou mecanismo subjacente tido como responsável pela regularidade descrita na lei" (Kneller, A ciência como atividade humana, p. 150).
      Portanto, a teoria tem como objetivo explicar as regularidades entre os fenômenos e deles fornecer uma compreensão ampla. Costuma-se dizer que explicar e prever constituem a função fundamental das leis e teorias científicas.


Transitoriedade das teorias científicas
    A ciência propõe-se atingir conhecimento precisos, coerentes e abrangentes. Caracteriza-se por tentar, deliberadamente, alcançar resultados que o senso comum, por suas condições, não pode normalmente alcançar.
      O estudo da história das ciências revela, no entanto, que inúmeras teorias científicas que, por algum tempo, reinaram como absolutamente sólidas e corretas mais tarde foram refutadas, sendo modificadas ou substituídas por outras.
      Por exemplo, durante séculos e séculos, o mundo ocidental acreditou, de forma inabalável, que a Terra fosse o centro do universo. Entretanto, Nicolau Copérnico, com a obra Da revolução das esferas celestes, publicada no ano de sua morte, 1543, demonstrou que a Terra se movia em torno do seu próprio eixo e ao redor do Sol. Era a teoria heliocêntrica, que refutava o geocentrismo de Ptolomeu.
      Isso significa que os conhecimentos científicos não são inquestionavelmente certos, coerentes e infalíveis para todo o sempre. É como se tivessem certas "condições de validade".

Charge sobre a Revolta da Vacina, de 1904, quando a população do Rio de Janeiro se revoltou contra o "espeto obrigatório", campanha de vacinação contra a varíola comandada por Osvaldo Cruz. Esse acontecimento é um bom exemplo de que muitas vezes um novo conhecimento científico — no caso o uso da vacina universal como forma de prevenção de doenças — pode demorar para ser aceito pela sociedade.

      Essa permanente possibilidade de que uma teoria científica seja revista ou corrigida por outra pode conduzir à noção pessimista de que a ciência fracassou no seu propósito ou perdeu sua razão de ser. Ou, ainda, à posição cética de que todos os conhecimentos científicos são crenças passageiras que serão condenadas no futuro.
      No entanto, existe certo consenso entre os defensores da ciência a respeito de que, embora as teorias científicas possam ser refutadas, reformuladas ou corrigidas, a ciência cumpre sua função enquanto tem "êxito no seu propósito de fornecer explicações dignas de confiança, bem fundadas e sistemáticas para numerosos fenômenos" (Nagel, Ciência: natureza e objetivo, em Morgen Besser, Filosofia da ciência, p. 18). Para alguns, seu papel seria justamente o de construir um conhecimento continuamente progressivo.


Filosofia da ciência
    Essas e outras discussões levaram ao surgimento de um campo de reflexão sobre a ciência e seus métodos: a epistemologia ou filosofia da ciência (aqui usamos as duas expressões como sinônimas, embora seja possível fazer uma distinção entre elas, como observamos aqui).
      O tema geral da filosofia da ciência é o desenvolvimento da reflexão crítica sobre os fundamentos do saber científico. Esse tema geral desdobra-se em uma série de questões, tais como:
• estudo do método de investigação científica;
• classificação da ciência;
• natureza das teorias científicas e sua capacidade de explicar a realidade;
• papel da ciência e sua utilização na sociedade.
      A epistemologia destacou-se como ramo da filosofia no final do século XIX, a partir de uma polêmica entre os pensadores ingleses William Whewell (1794-1866) e John Stuart Mill (1806-1873) sobre o papel do método indutivo na ciência.


Opinião de cientistas
    Em sua opinião, se um conhecimento científico pode ser refutado com o passar do tempo, por que as opiniões dos cientistas tendem a ser mais valorizadas que as de outras pessoas na maioria das sociedades ocidentais contemporâneas? Haveria um endeusamento ou uma mitificação dos cientistas? Ou há uma boa razão para que isso ocorra?
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