Pensar a vida e viver o pensamento, de forma profunda e radical. Isso é filosofar.

Casamento e educação

       A mulher está para o homem assim como o escravo está para o senhor, o trabalhador manual para o mental, o bárbaro para o grego. A mulher é um homem inacabado, deixada de pé num degrau inferior da escala do desenvolvimento (De Gen. An., II, 3; Hist. An., VIII, 1; Pol I, 5, Weininger; e "Woman will be the last thing civilized by man", de Meredith [Ordeal of Richard Feverel, p. 1]. Parece, no entanto, que o homem foi [ou será] a última coisa civilizada pela mulher; porque os grandes agentes civilizadores são a família e uma vida econômica estável; e ambas são criações da mulher). O macho é, por natureza, superior, e a fêmea, inferior; um governa, e a outra é governada, e esse princípio se estende, forçosamente, a toda Humanidade. A mulher tem vontade fraca e, por isso, é incapaz de independência de caráter ou posição; sua melhor condição é uma tranquila vida caseira na qual, embora governada pelo homem em suas relações externas, ela possa ser o máximo em assuntos domésticos. Não se deve fazer com que as mulheres fiquem mais iguais aos homens, como na república de Platão; ao contrário, a dissimilaridade deve ser aumentada; nada é tão atraente quanto o diferente. "A coragem de um homem e de uma mulher não são, como supunha Sócrates, iguais: a coragem do homem é mostrada no comando; a da mulher, na obediência. (...) Como diz o poeta, 'O silêncio é a glória da mulher." (Política, 1, 13).

      Aristóteles parece desconfiar de que essa escravidão ideal da mulher é uma realização rara para o homem, e que em geral o cetro está com a língua, e não com o braço. Como se para dar ao macho uma vantagem indispensável, ele o aconselha a adiar o casamento até próximo dos 37 anos, e então casar-se com uma jovem de vinte. A moça que esteja em torno dos vinte é, em geral, igual a um homem de trinta, mas talvez possa ser governada por um maduro guerreiro de trinta e sete. O que atrai Aristóteles a essa matemática matrimonial é a ideia de que duas pessoas assim tão díspares irão perder a sua faculdade reprodutora e suas paixões mais ou menos na mesma época. "Se o homem ainda for capaz de gerar filhos enquanto a mulher é incapaz de tê-los, ou vice-versa, vão surgir discussões e diferenças. (...) Como a fase de geração está comumente ligada até os setenta anos no homem e cinquenta na mulher, o começo de sua união deve estar de acordo com esses períodos. A união de macho e fêmea quando demasiado jovens é prejudicial para a criação de filhos; em todos os animais, a prole dos jovens é pequena e mal desenvolvida, e em geral fêmea." A saúde é mais importante do que o amor. Além do mais, "não casar cedo demais conduz à temperança; porque as mulheres que casam cedo demais tendem à licenciosidade, e nos homens, também, a estrutura física tem o seu desenvolvimento tolhido se eles se casam enquanto estão crescendo" (E evidente que Aristóteles tem em mente apenas a temperança das mulheres; o efeito moral do casamento postergado sobre os homens não parece preocupá-lo). Esses assuntos não devem ser deixados ao capricho dos jovens, devem ficar sob a supervisão e o controle do Estado: o Estado deve determinar as idades mínimas e máximas do casamento para cada sexo, as melhores estações para a concepção e a taxa de aumento da população. Se a taxa natural de aumento for demasiado alta, a cruel prática do infanticídio poderá ser substituída pelo aborto; e "que o aborto seja provocado antes que tenham começado o sentir e a vida" (Política, VII, 16). Há um número ideal de população para cada Estado, variando segundo a sua posição e seus recursos. "Um Estado, quando composto de um número de habitantes demasiado pequeno, não é, como deve ser um Estado, autossuficiente; por outro lado, se tiver gente demais (...), torna-se uma nação e não um Estado, e é quase que incapaz de um governo constitucional", ou de unidade étnica ou política. Qualquer número que exceda uma população de dez mil habitantes é indesejável.

      A educação, também, deve ficar nas mãos do Estado. "O que mais contribui para a permanência das constituições é a adaptação da educação à forma de governo. (...) O cidadão deve ser moldado à forma de governo sob a qual ele vive." Com o controle estatal das escolas, poderíamos desviar homens da indústria e do comércio para a agricultura; e poderíamos treinar homens, enquanto mantínhamos a propriedade privada, a abrir suas propriedades a um uso discriminadamente comum. "Entre os homens bons, no que se refere ao uso da propriedade, vigorará o provérbio que diz que 'os amigos devem ter tudo em comum". Mas, acima de tudo, ao cidadão que está no período de crescimento deve-se ensinar a obediência às leis, caso contrário o Estado será impossível. "Já foi bem dito que 'aquele que nunca aprendeu a obedecer não pode ser um bom comandante'. (...)

      O bom cidadão deve ser capaz das duas coisas." E só um sistema de escolas estatal pode conseguir a unidade social em meio à heterogeneidade étnica; o Estado é uma pluralidade que tem que ser transformada em unidade e numa comunidade pela educação. Que à juventude seja ensinado, também, o grande benefício que ela tem no Estado, a segurança, não reconhecida, que se obtém com a organização social, a liberdade proporcionada pelas leis. "O homem, quando aperfeiçoado, é o melhor dos animais; mas, quando isolado, é o pior de todos; porque a injustiça é mais perigosa quando armada, e o homem é equipado, ao nascer, com a arma da inteligência e com qualidades de caráter que poderá usar para os mais baixos fins. Por isso, se ele não tiver virtude, será o mais perverso e selvagem dos animais, cheio de gula e lascívia." E só o controle social poderá dar-lhe a virtude. Através da fala, o homem desenvolver a sociedade; através da sociedade, a inteligência; através da inteligência, a ordem; e através da ordem, a civilização. Em um Estado assim ordenado, o indivíduo tem mil oportunidades e meios de desenvolvimento à sua disposição que uma vida solitária jamais daria. "Para viver sozinho", então, "é preciso ser um animal ou um deus" (Política, I, 2. "Ou", acrescenta Nietzsche, que extrai quase toda a sua filosofia política de Aristóteles, "as duas coisas ― isto é, filósofo.").

      Por isso, a revolução é quase sempre insensata; pode conseguir algum bem, mas à custa de muitos males, o principal dos quais é a perturbação, e talvez a dissolução, da ordem e da estrutura social das quais depende todo bem político. As consequência diretas das inovações revolucionárias podem ser calculáveis e salutares; mas as indiretas são, em geral, incalculáveis, e não raro desastrosas. "Aqueles que só levam em consideração uns poucos detalhes acham fácil fazer um julgamento"; e um homem pode se decidir com rapidez se tiver apenas pouco para decidir. "Os moços são facilmente enganados, porque é fácil terem esperança." A supressão de hábitos há muito adquiridos provoca a derrubada de governos inovadores porque os velhos hábitos persistem entre o povo; os caracteres não são tão fáceis de mudar quanto as leis. Para que uma constituição seja permanente, todas as partes de uma sociedade devem desejar que ela seja mantida. Portanto, o governante que quiser evitar uma revolução deve evitar extremos de pobreza e riqueza ― "uma condição que, na maioria das vezes, é resultado de uma guerra"; deve (como os ingleses) estimular a colonização como um escoadouro para uma população perigosamente congestionada; e deve estimular a praticar a religião. Um governante autocrático, em particular, "deve parecer fervoroso na adoração dos deuses; porque se os homens pensarem que o governante é religioso e reverencia os deuses, terão menos medo de sofrer injustiças em suas mãos e ficarão menos dispostos a conspirar contra ele, já que acreditam que os próprios deuses estão lutando ao lado dele".




A História da Filosofia, de Will Durant

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