Com essas salvaguardas da religião, da educação e do ornamento da vida familiar, quase qualquer uma das formas tradicionais de governo servirá. Todas as formas têm uma mistura de coisas boas e más, e estão diversamente adaptadas a várias condições. Teoricamente, a forma ideal de governo seria a centralização de todo o poder político no melhor homem. Homero está certo: "Mau é o mando de muitos; que só um seja o nosso governante e senhor". Para um homem desses, a lei seria mais um instrumento do que um limite: "para homens de capacidade eminente, não existe lei ― eles próprios são a lei". Cairia no ridículo quem tentasse fazer leis para eles; é provável que eles retorquissem com o que, na fábula de Antístenes, os leões disseram às lebres quando, no concílio dos animais, elas começaram a arengar e a reclamar igualdade para todos: "Onde estão suas garras?" (É provável que Aristóteles estivesse pensando em Alexandre ou Filipe enquanto escrevia esse trecho, assim como Nietzsche parece ter sido influenciado a chegar a conclusões semelhantes pelas fascinantes carreiras de Bismarck e Napoleão).
Na prática, porém, a monarquia é, em geral, a pior forma de governo, porque não é fácil unir grande força e uma grande virtude. Por isso, a melhor constituição política praticável é a aristocracia, o governo da minoria informada e capaz. Governo é uma coisa demasiado complexa para ter seus problemas resolvidos pelo número, quando casos menores ficam reservados ao conhecimento e à capacidade. "Assim como o médico deveria ser julgado pelo médico, assim os homens em geral deveriam ser julgados pelos seus pares. (...) Ora, será que esse mesmo princípio se aplica às eleições? Porque uma eleição correta só pode ser feita por aqueles que têm conhecimento: um geometrista, por exemplo, tomará decisões corretas em assuntos de geometria; ou um piloto em questões de navegação. [...] (Política, III, 11. O argumento moderno em favor da "representação profissional"). De modo que nem a eleição de magistrados nem a cobrança que se faça deles devem ser confiadas à maioria."
A dificuldade com a aristocracia hereditária está em que ela não tem base econômica permanente; o eterno aparecimento dos nouveaux riches coloca o cargo político, mais cedo ou mais tarde, à disposição de quem der o maior lance. "Não há dúvida de que é lamentável que os cargos mais importantes (...) devam ser comprados. A lei que permite esse abuso dá mais valor à riqueza do que à capacidade, e o Estado todo se torna avarento. Porque sempre que os chefes de Estado consideram qualquer coisa honrada, os outros cidadãos seguem, com toda certeza, o seu exemplo" (a "imitação do prestígio" da moderna psicologia social); "e onde a capacidade não ocupa o primeiro lugar, não existe a verdadeira aristocracia".
A democracia é, em geral, o resultado de uma revolução contra a plutocracia. "O amor ao lucro nas classes governantes tende, constantemente, a diminuir-lhe o número" (a "eliminação da classe média", de Marx), "e, assim, a fortalecer as massas, que acabam se lançando contra os seus senhores e instalando democracias." Esse "governo dos pobres" tem algumas vantagens. "O povo, embora individualmente possa ser um juiz pior do que aqueles que possuem um conhecimento especial, é coletivamente tão bom quanto eles. Além do mais, há certos artistas cujos trabalhos são melhor julgados não apenas por eles mesmos, mas por aqueles que não possuem a arte; por exemplo, o usuário ou dono de uma casa terá melhores condições de julgá-la do que o construtor; (...) e o convidado será melhor juiz de um banquete do que o cozinheiro" (E "a maioria é mais incorruptível do que a minoria; assemelha-se à maior quantidade de água, que é mais difícil de contaminar do que a pequena quantidade. O indivíduo está sujeito a ser dominado pela raiva, ou por alguma outra paixão, e então seu julgamento será necessariamente deturpado; mas é difícil supor que um grande número de pessoas fosse, todo ele, ficar tomado por uma paixão e agir errado ao mesmo tempo" (Política, III, 15. Tarde, Le Bon e outros psicólogos sociais afirmam exatamente o contrário; e embora exagerem os vícios da multidão, poderiam encontrar um apoio melhor do que Aristóteles no comportamento da Assembleia Ateniense (430-330 a.C.).
No entanto, a democracia é, de modo geral, inferior à aristocracia. Porque está baseada numa falsa presunção de igualdade; ela "nasce da teoria de que aqueles que são iguais em determinado aspecto (por exemplo, no respeito às leis) são iguais em todos os demais: como os homens são igualmente livres, eles alegam ser absolutamente iguais". O resultado é que a capacidade é sacrificada em favor da quantidade, enquanto os números são manipulados pelo embuste. Tendo em vista que o povo é enganado com muita facilidade, e é muito volúvel quanto a seus pontos de vista, a eleição deveria ser limitada aos inteligentes. O que precisamos é de uma combinação de aristocracia e democracia.
O governo constitucional oferece essa feliz união. Não é o melhor governo que se possa imaginar ― este seria uma aristocracia da educação ―, mas é o melhor Estado possível. "Temos que perguntar qual é a melhor constituição para a maioria dos estados e a melhor vida para a maioria dos homens; não presumindo um padrão de excelência que fique acima das pessoas comuns, nem uma educação excepcionalmente favorecida pela natureza ou pelas circunstâncias, e tampouco um Estado ideal que venha a ser apenas uma inspiração; mas tendo em mente uma vida que possa ser partilhada pela maioria e uma forma de governo à qual os estados de maneira geral possam se ater." "E necessário começar adotando um princípio de aplicação geral, ou seja, o de que a parte do Estado que desejar a continuidade do governo deve ser mais forte do que aquela que não deseja isso"; e força consistente não apenas no número, não apenas na propriedade, não apenas na capacidade militar ou política, mas numa combinação desses fatores, de modo que se tem de levar em consideração "a liberdade, a riqueza, a cultura e o nascimento nobre, bem como a simples superioridade numérica". Ora, onde iremos achar essa maioria econômica para apoiar o nosso governo constitucional? Talvez mais na classe média: temos, outra vez, o meio-termo justo, assim como o próprio governo constitucional seria uma média entre democracia e aristocracia. Nosso Estado será suficientemente democrático se o caminho para todos os cargos estiver aberto a todos; e suficientemente aristocrático se esses mesmos cargos estiverem vedados a todos aqueles que não tiveram trilhado o caminho e chegado plenamente preparados. Seja qual for o ângulo pelo qual abordemos o nosso eterno problema político, chegamos monotonamente à mesma conclusão: a de que a comunidade deve determinar os objetivos a serem perseguidos, mas que só os peritos devem selecionar e aplicar os meios; a de que a escolha deve ser democraticamente difundida, mas que o cargo deve ficar rigorosamente reservado para os mais bem equipados e selecionados.
A História da Filosofia, de Will Durant
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