Examinemos por alguns instantes o material humano com o qual a filosofia política tem que trabalhar.
O comportamento humano, diz Platão, deflui de três fontes principais: desejo, emoção e conhecimento. Desejo, apetite, impulso, instinto são uma coisa só; emoção, espírito, ambição e coragem são uma coisa só; conhecimento, pensamento, intelecto, razão são uma coisa só. O desejo tem o seu centro no baixo-ventre, um explosivo reservatório de energia, fundamentalmente sexual. A emoção tem o seu centro no coração, no fluxo e na força do sangue; é a ressonância orgânica da experiência e do desejo. O conhecimento tem o seu centro na cabeça; ele é o olho do desejo e pode se tornar o piloto da alma.
Essas forças e essas qualidade estão todas em cada indivíduo, mas em graus variados. Certos homens não passam da personificação do desejo; almas irrequietas e gananciosas, que ficam absorvidas por buscas materiais e lutas, que ardem de cobiça de artigos de luxo e exibição, e que sempre dão um valor zero a seus ganhos aos compará-los com seus objetivos sempre distantes: são estes os homens que dominam e manipulam a indústria. Mas existem outros que são templos de sentimento e coragem, que não se importam tanto com aquilo pelo que lutam quanto com a vitória "em si mesma e por si mesma"; eles são combativos, e não gananciosos; seu orgulho está no poder, e não na posse, seu deleite está no campo de batalha e não no mercado: são estes os homens que fazem os Exércitos e as Marinhas no mundo. E por último estão os poucos que se deliciam com a meditação e com a compreensão; que anseiam não por bens, nem pela vitória, mas pelo conhecimento; que deixam o mercado e o campo de batalha para se perderem na tranquila clareza do pensamento solitário; cuja vontade é uma luz, e não um fogo, cujo abrigo não é o poder, mas a verdade: estes são os homens de sabedoria, que ficam de lado sem serem utilizados pelo mundo.
Ora, assim como a ação individual eficiente dá a entender que o desejo, embora aquecido pela emoção, é guiado pelo comportamento, no Estado perfeito as forças industriais iriam produzir, mas não governar; as forças militares iriam proteger, mas não governar; as forças do conhecimento, da ciência e da filosofia seriam alimentadas e protegidas e iriam governar. Sem ser guiado pelo conhecimento, o povo é uma multidão sem ordem, como desejos desordenados; o povo precisa da orientação dos filósofos, tal como os desejos precisam das luzes do conhecimento. "A ruína chega quando o negociante, cujo coração se anima com a riqueza, torna-se o governante"; ou quando o general usa o seu Exército para instalar uma ditadura militar. O produtor tem o seu melhor desempenho no campo econômico, o guerreiro tem o seu melhor desempenho na batalha; os dois têm o seu pior desempenho num cargo público; e, em suas mãos rudes, a política abafa a estadística. Porque a estadística é uma ciência e uma arte; o indivíduo deve ter vivido para ela e ter sido preparado durante um longo tempo. Só um rei filósofo está apto a guiar uma nação. "Enquanto os filósofos não forem reis, ou os reis e príncipes deste mundo não tiverem o espírito e o poder da filosofia, e a sabedoria e a liderança política não se encontrarem no mesmo homem, (...) as cidades jamais deixarão de sofrer de seus males, o mesmo acontecendo com a raça humana".
Este é o fecho do arco do pensamento de Platão.
A História da Filosofia, de Will Durant
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