Pensar a vida e viver o pensamento, de forma profunda e radical. Isso é filosofar.

GNOSIOLOGIA - A investigação sobre o conhecer

      Gnosiologia é o campo de estudos filosóficos que se dedica à questão do conhecimento. Essa área também é conhecida como teoria do conhecimento, epistemologia ou crítica do conhecimento.
      Mas o que é conhecimento? O que queremos dizer quando falamos em conhecimento? A palavra conhecimento pode ter distintas acepções, conforme o contexto. Vamos partir da concepção básica e comum de que conhecimento é a apresentação verídica ou adequada de algo (o objeto) ao pensamento (o sujeito), mesmo que de forma parcial.
      Se, por exemplo, alguém diz "navio" e aparece em meu espírito algo que corresponde ao objeto navio, eu tenho um conhecimento, mesmo que vago. Mas se dizem "navio" e surge em minha mente algo que não corresponde ao objeto navio, eu não tenho um conhecimento, isto é, o objeto navio não se apresenta em meu espírito de forma verídica (como ele é de verdade) ou adequada.
      Isso parece simples, mas não é bem assim. Existem graus distintos de conhecimento e também muito engano e ilusão naquilo que uma pessoa pensa conhecer. É preciso, portanto, ir bem mais "fundo" nesse assunto e obter outras informações sobre o processo de conhecer.
      Foi o que fizeram diversos filósofos, em sua busca incessante por compreender a si mesmos e o mundo à sua volta. Nesse processo, eles chegaram à conclusão de que era necessário entender primeiro a própria faculdade de conhecer do ser humano, antes de confiar plenamente na percepção e compreensão que alcançavam das coisas.


Questões básicas
    Assim, desde a Antiguidade grega, grande parte dos pensadores voltou-se para o problema do conhecimento e as questões básicas que o envolvem, dando origem a diversas gnosiologias ou teorias do conhecimento.
      Nesse sentido, podemos dizer que existem tantas teorias do conhecimento quantos foram os filósofos que se preocuparam com o problema, pois é impossível constatar total coincidência de concepções mesmo entre filósofos que habitualmente são classificados dentro de uma mesma escola ou corrente.
      Apesar dessa diversidade, podemos dizer que as questões que concentraram a atenção desses teóricos foram principalmente as seguintes:
• relação sujeito-objeto — como é a atividade do sujeito do conhecimento em relação ao objeto conhecido;
• fontes primeiras — qual é a origem ou o ponto de partida do conhecimento;
• processo — como os dados se transformam em ideias, em juízos etc.;
• possibilidades — o que podemos conhecer de forma verdadeira.
      Cada teoria do conhecimento constitui, portanto, uma reflexão filosófica que procura investigar as origens ou os fundamentos, as possibilidades, a extensão e o valor do conhecimento.
      Apesar de constituir uma reflexão antiga, foi somente a partir da Idade Moderna que a gnosiologia passou a ser tratada como uma das disciplinas centrais da filosofia. Nesse processo de valorização colaboraram de forma decisiva, além de Descartes, os filósofos John Locke e Immanuel Kant.


Representacionismo
    A definição que demos antes de conhecimento (a apresentação verídica ou adequada de algo ao pensamento) corresponde à interpretação predominante no pensamento moderno, que entende o conhecimento como representação.
      Isso quer dizer que conhecer seria representar o que é exterior à mente. Seria obter uma "imagem" ou "reprodução" do mundo externo, projetada na consciência. Conhecer, por exemplo, um pássaro consistiria  em formar uma representação, uma "imagem adequada" desse pássaro em nossa mente.
      Nesse entendimento, a mente constitui uma espécie de "espelho da natureza" — metáfora sugerida pelo filósofo estadunidense Richard Rorty (1931-2007), um crítico da interpretação representacionista do conhecimento. Assim, para conhecer as coisas como elas realmente são bastaria "polir" metodicamente esse "espelho" (a mente e seus processos), como tentaram fazer a filosofia e a ciência moderna.

A condição humana (1935) — René Magritte. Acredita-se, em geral, que conhecimento perfeito é aquele em que a representação é idêntica à realidade.


Relação sujeito-objeto
    Portanto, de acordo com a visão tradicional e representacionista do conhecimento, há basicamente dois polos no processo de conhecer:
o sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa mente); e
o objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos).
      Dependendo do papel que cada teoria do conhecimento dá a cada um desses polos, dizemos que ela é realista ou idealista. Vejamos cada uma.


Realismo
    De acordo com as teorias realistas do conhecimento, as percepções que temos dos objetos são reais, ou seja, correspondem de fato às características presentes nesses objetos, na realidade. Por exemplo: as formas e cores que o sujeito percebe no pássaro são cores e formas que o pássaro realmente possui em si. A concepção do senso comum é basicamente realista.
      Assim, no realismo mais ingênuo (ou menos crítico), o conhecimento ocorre por uma apreensão imediata das características dos objetos, isto é, os objetos mostram-se ao sujeito que os percebe como realmente são, determinando o conhecimento que então se estabelece.
      Há, no entanto, outras formas mais críticas de realismo, que problematizam a relação sujeito-objeto, porém mantêm a ideia básica de que o objeto é determinante no processo de conhecimento.

Observação: Diversos pensadores contemporâneos questionaram o representacionismo, bem como as visões gnosiológicas que polarizam sujeito-objeto. Esse questionamento deu origem a outras correntes de interpretações sobre o processo de conhecer, como o pragmatismo e a fenomenologia.


Idealismo
    Por sua vez, para as teorias idealistas do conhecimento, é o sujeito que predomina em relação ao objeto, isto é, a percepção da realidade é produzida pelas nossas ideias, pela nossa consciência. Em outras palavras, os objetos seriam "construídos" de acordo com a capacidade de percepção do sujeito.
      Como consequência dessa interpretação, o que existe realmente é a representação que o sujeito faz do objeto. Por exemplo: as formas e cores que o sujeito percebe no pássaro nada mais são que ideias ou representações desses atributos; não entra em questão se elas realmente existem no pássaro.
      Também no idealismo há posições mais ou menos radicais em relação à afirmação do sujeito como elemento determinante na relação de conhecimento.

Qual doutrina faz mais sentido para você, a realista ou a idealista? Por quê? Reflita sobre essa questão.
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