Augusto Comte — Tony Toullion. Para Comte, "não poderia haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos observáveis", frase que se converteu em um princípio do positivismo. |
Augusto Comte (1798-1857) nasceu em Montpellier, França, país que ainda vivia o processo da Revolução Francesa. Desde cedo revelou grande capacidade intelectual e memória prodigiosa. Aos 16 anos de idade ingressou na Escola Politécnica de Paris, onde estudou matemática e ciência.
De temperamento intempestivo, durante sua vida sofreu surtos de crise mental e depressão psíquica. Separado da primeira esposa, apaixonou-se por Clotilde de Vaux, uma mulher casada. Mantendo por ela um amor platônico, transformou-a em sua musa inspiradora e a santa de uma nova religião que fundaria no final da vida.
O que é positivismo
Positivismo é a designação da doutrina criada por Comte, fundada na extrema valorização do método científico das ciências positivas (baseadas nos fatos e na experiência) das discussões metafísicas. O termo positivismo foi adotado pelo próprio Comte, definindo toda uma diretriz para a sua filosofia, de culto da ciência e sacralização do método científico.
O positivismo caracteriza-se por um tom geral de confiança nos benefícios da industrialização, bem como por um otimismo em relação ao progresso capitalista, guiado pela técnica e pela ciência.
Manifestando-se de modo variado em diversos países ocidentais a partir da segunda metade do século XIX, o positivismo refletiu o entusiasmo burguês pelo progresso trazido com o desenvolvimento técnico-industrial capitalista. E, embora seja bastante criticado no plano teórico, trata-se de uma doutrina muito influente no plano prático até nossos dias.
Lei dos três estados
A lei dos três estados resume o pesamento de Comte sobre a evolução histórica e cultural da humanidade. Conforme escreveu em seu Curso de filosofia positiva, "essa lei consiste em que cada ma de nossas concepções principais, cada ramos de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes" (p. 4);
• estado teológico ou fictício — estágio que representaria o ponto de partida da inteligência humana no qual os fenômenos do mundo são vistos como produzidos por seres sobrenaturais. O ponto culminante desse estado deu-se quando o ser humano substituiu o politeísmo (numerosas divindades independentes) pelo monoteísmo (ação providencial de um Deus único);
• estado metafísico ou abstrato — estágio em que a influência dos seres sobrenaturais do estado teológico foi substituída pela ação de forças abstratas consideradas como representantes dos seres do mundo;
• estado científico ou positivo — estágio definitivo da evolução racional da humanidade em que, pelo uso combinado do raciocínio e da observação, o ser humano passou a entender os fenômenos do mundo.
Objetivo e características
O objetivo do método positivo de investigação é a pesquisa das leis que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande ideal das ciências.
Com base nessas leis, o ser humano torna-se capaz de prever os fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade. Ver para prever é o lema da ciência positiva. O conhecimento científico torna-se, desse modo, um instrumento de transformação da realidade, de domínio do ser humano sobre a natureza. As transformações impulsionadas pela ciência visam o progresso; este, porém, deve estar subordinado à ordem. Temos, então, um novo lema positivista, aplicado à sociedade: ordem e progresso.
Na obra Discurso sobre o espírito positivo, Comte aponta as características fundamentais que distinguem o positivismo das demais filosofias. Seriam o seu compromisso com a:
• realidade — pesquisa de fatos concretos, acessíveis à nossa inteligência, deixando de lado a preocupação com mistérios impenetráveis referentes às causas primeiras e últimas dos seres;
• utilidade — busca de conhecimentos destinados ao aperfeiçoamento individual e coletivo do indivíduo, desprezando as especulações ociosas, vazias e estéreis;
• certeza — obtenção de conhecimentos capazes de estabelecer a harmonia lógica na mente do próprio indivíduo e a comunhão em toda a espécie humana, abandonando as dúvidas indefinidas e os intermináveis debates metafísicos;
• precisão — estabelecimento de conhecimentos que se opõem ao vago, baseados em enunciados rigorosos, sem ambiguidades;
• organização — tendência a organizar, construir metodicamente, sistematizar o conhecimento humano;
• relatividade — aceitação de conhecimentos científicos relativos. Se não fossem relativos, não poderia ser admitida a continuidade de novas pesquisas, capazes de trazer teorias com teses opostas ao conhecimento estabelecido. Assim, a ciência positiva é relativa porque admite o aperfeiçoamento e a ampliação dos conhecimentos humanos.
Reforma da sociedade
Tendo Comte nascido e vivido na França pós-revolucionária, a questão social não poderia deixar de ser importante em sua reflexão. De fato, um dos temas centrais de sua obra filosófica é a necessidade de uma reorganização completa da sociedade. Nessa tarefa, ele próprio pretendeu desempenhar o papel de reformador universal "encarregado de instituir a ordem de uma maneira soberana" (Verdenal, A filosofia positiva de Augusto Comte, em Châtelet, História da filosofia, v. 5, p. 215).
Essa reconstrução da sociedade consistia, para Comte, na regeneração das opiniões (ideias) e dos costumes (ações) humanos. Tratava-se, portanto, de uma reestrutura intelectual dos indivíduos e não de uma revolução das instituições sociais, como propunham filósofos socialistas franceses de sua época, a exemplo de Saint-Simon (1760-1825) — de quem Comte havia sido secretário particular —, Fourier (1772-1837) e Proudhon (1809-1865).
A reforma da sociedade proposta pelo filósofo deveria obedecer aos seguintes passos: reorganização intelectual, depois moral e, por fim, política. Segundo ele, a Revolução Francesa destruiu uma série de valores importantes da sociedade tradicional europeia, não sendo capaz, entretanto, de impor novos e permanentes valores para a emergente sociedade burguesa. E nisso residia a grande tarefa a ser desempenhada pela filosofia positiva: restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial.
Em relação aos conflitos entre proletários e capitalistas, Comte assumiu uma posição considerada conservadora. Defendendo a legitimidade da exploração industrial, concordava com a divisão das classes sociais e considerava indispensável a existência dos empreendedores capitalistas e dos operadores diretos, o proletariado. Para os trabalhadores, defendia um tipo de doutrinação positiva destinada a confirmar a necessidade dos trabalhos práticos e mecânicos, inspirando
Nos últimos quinze anos de sua vida, Comte decidiu criar uma nova seita religiosa, denominada Religião da Humanidade. A deusa dessa religião tinha os traços de sua amada Clotilde de Vaux, e os "santos" eram pensadores como Dante, Shakespeare, Galileu, Adam Smith etc.
Elaborou também o Catecismo positivista, destinado a difundir os princípios religiosos da nova seita. Nessa obra, explicitou o que havia ficado oculto ou pouco evidenciado nos trabalhos anteriores: suas concepções dogmáticas, autoritárias e conservadoras.
Positivismo é a designação da doutrina criada por Comte, fundada na extrema valorização do método científico das ciências positivas (baseadas nos fatos e na experiência) das discussões metafísicas. O termo positivismo foi adotado pelo próprio Comte, definindo toda uma diretriz para a sua filosofia, de culto da ciência e sacralização do método científico.
O positivismo caracteriza-se por um tom geral de confiança nos benefícios da industrialização, bem como por um otimismo em relação ao progresso capitalista, guiado pela técnica e pela ciência.
Manifestando-se de modo variado em diversos países ocidentais a partir da segunda metade do século XIX, o positivismo refletiu o entusiasmo burguês pelo progresso trazido com o desenvolvimento técnico-industrial capitalista. E, embora seja bastante criticado no plano teórico, trata-se de uma doutrina muito influente no plano prático até nossos dias.
Lei dos três estados
A lei dos três estados resume o pesamento de Comte sobre a evolução histórica e cultural da humanidade. Conforme escreveu em seu Curso de filosofia positiva, "essa lei consiste em que cada ma de nossas concepções principais, cada ramos de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes" (p. 4);
• estado teológico ou fictício — estágio que representaria o ponto de partida da inteligência humana no qual os fenômenos do mundo são vistos como produzidos por seres sobrenaturais. O ponto culminante desse estado deu-se quando o ser humano substituiu o politeísmo (numerosas divindades independentes) pelo monoteísmo (ação providencial de um Deus único);
• estado metafísico ou abstrato — estágio em que a influência dos seres sobrenaturais do estado teológico foi substituída pela ação de forças abstratas consideradas como representantes dos seres do mundo;
• estado científico ou positivo — estágio definitivo da evolução racional da humanidade em que, pelo uso combinado do raciocínio e da observação, o ser humano passou a entender os fenômenos do mundo.
Objetivo e características
O objetivo do método positivo de investigação é a pesquisa das leis que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande ideal das ciências.
Com base nessas leis, o ser humano torna-se capaz de prever os fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade. Ver para prever é o lema da ciência positiva. O conhecimento científico torna-se, desse modo, um instrumento de transformação da realidade, de domínio do ser humano sobre a natureza. As transformações impulsionadas pela ciência visam o progresso; este, porém, deve estar subordinado à ordem. Temos, então, um novo lema positivista, aplicado à sociedade: ordem e progresso.
A influência positivista está presente no lema da atual bandeira do Brasil, "Ordem e progresso", expressão formulada pelo próprio Comte. |
Na obra Discurso sobre o espírito positivo, Comte aponta as características fundamentais que distinguem o positivismo das demais filosofias. Seriam o seu compromisso com a:
• realidade — pesquisa de fatos concretos, acessíveis à nossa inteligência, deixando de lado a preocupação com mistérios impenetráveis referentes às causas primeiras e últimas dos seres;
• utilidade — busca de conhecimentos destinados ao aperfeiçoamento individual e coletivo do indivíduo, desprezando as especulações ociosas, vazias e estéreis;
• certeza — obtenção de conhecimentos capazes de estabelecer a harmonia lógica na mente do próprio indivíduo e a comunhão em toda a espécie humana, abandonando as dúvidas indefinidas e os intermináveis debates metafísicos;
• precisão — estabelecimento de conhecimentos que se opõem ao vago, baseados em enunciados rigorosos, sem ambiguidades;
• organização — tendência a organizar, construir metodicamente, sistematizar o conhecimento humano;
• relatividade — aceitação de conhecimentos científicos relativos. Se não fossem relativos, não poderia ser admitida a continuidade de novas pesquisas, capazes de trazer teorias com teses opostas ao conhecimento estabelecido. Assim, a ciência positiva é relativa porque admite o aperfeiçoamento e a ampliação dos conhecimentos humanos.
Reforma da sociedade
Tendo Comte nascido e vivido na França pós-revolucionária, a questão social não poderia deixar de ser importante em sua reflexão. De fato, um dos temas centrais de sua obra filosófica é a necessidade de uma reorganização completa da sociedade. Nessa tarefa, ele próprio pretendeu desempenhar o papel de reformador universal "encarregado de instituir a ordem de uma maneira soberana" (Verdenal, A filosofia positiva de Augusto Comte, em Châtelet, História da filosofia, v. 5, p. 215).
Essa reconstrução da sociedade consistia, para Comte, na regeneração das opiniões (ideias) e dos costumes (ações) humanos. Tratava-se, portanto, de uma reestrutura intelectual dos indivíduos e não de uma revolução das instituições sociais, como propunham filósofos socialistas franceses de sua época, a exemplo de Saint-Simon (1760-1825) — de quem Comte havia sido secretário particular —, Fourier (1772-1837) e Proudhon (1809-1865).
A reforma da sociedade proposta pelo filósofo deveria obedecer aos seguintes passos: reorganização intelectual, depois moral e, por fim, política. Segundo ele, a Revolução Francesa destruiu uma série de valores importantes da sociedade tradicional europeia, não sendo capaz, entretanto, de impor novos e permanentes valores para a emergente sociedade burguesa. E nisso residia a grande tarefa a ser desempenhada pela filosofia positiva: restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial.
Em relação aos conflitos entre proletários e capitalistas, Comte assumiu uma posição considerada conservadora. Defendendo a legitimidade da exploração industrial, concordava com a divisão das classes sociais e considerava indispensável a existência dos empreendedores capitalistas e dos operadores diretos, o proletariado. Para os trabalhadores, defendia um tipo de doutrinação positiva destinada a confirmar a necessidade dos trabalhos práticos e mecânicos, inspirando
"[...] o gosto por eles, quer enobrecendo seu caráter habitual, quer adoçando suas consequências penosas. Conduzindo, de resto, a uma sadia apreciação das diversas posições sociais e das necessidades correspondentes, predispõem a perceber que a felicidade real é compatível com todas e quaisquer condições, desde que sejam desempenhadas com honra e aceitas convenientemente." (Discurso sobre o espírito positivo, p. 85).
Elaborou também o Catecismo positivista, destinado a difundir os princípios religiosos da nova seita. Nessa obra, explicitou o que havia ficado oculto ou pouco evidenciado nos trabalhos anteriores: suas concepções dogmáticas, autoritárias e conservadoras.
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