Neste texto o filósofo francês Luc Ferry (1951-) critica a abordagem da ecologia profunda, corrente filosófica que defende o fim da visão antropocêntrica do mundo, no entendimento de que o ser humano pertence ao universo (não está acima nem fora dele). Leia-o e responda às questões propostas.
"Ao instituir a natureza em pessoa jurídica, a ecologia profunda consegue realmente, quando é rigorosa, fazer do universo material, da biosfera ou do cosmo, um modelo ético a ser imitado pelos homens. Como se a ordem do mundo fosse boa em si mesma, emanando toda a corrupção do mundo, portanto, da vaidosa e poluente espécie humana. [...] No entanto, a sacralização da natureza é intrinsecamente insustentável. À semelhança daqueles fanáticos religiosos, hostis a toda intervenção médica que eles supõem ser contrária às intenções divinas, os ecologistas profundos ocultam alegremente tudo o que é detestável na natureza. Desta só retêm o que é harmonia, paz e beleza. É nessa ótica que alguns desqualificam facilmente a categoria dos 'nocivos', considerando que tal noção, inteiramente antropocentrista, é um absurdo. Inspirando-se na teologia, eles supõem que a natureza é não só o Ser supremo mas também [...] a entidade perfeita que seria sacrilégio pretender modificar ou melhorar. Uma pergunta simples: como explicar então os vírus, as epidemias, os sismos e tudo o mais que tem, com toda razão, o nome de 'catástrofe natural'? Alguém dirá que são 'úteis'? Mas para quê e a quem? Alguém julgará que possuem as mesmas legitimidades que nós pra preservar em seu ser? Por que não, nesse caso, um direito do ciclone a devastar, dos abalos sísmicos a engolir, dos micróbios a inocular enfermidades? A menos que se adote uma atitude anti-intervencionista em todos os pontos e em todas as circunstâncias, é necessário que se resolva admitir o fato de a natureza, como um todo, não ser 'boa em si', mas conter tanto o melhor quanto o pior. Em relação a quem, perguntar-se-á? Ao homem, é claro, que continua sendo, até prova em contrário, o único ser suscetível de enunciar juízos de valor e de, como diz a sabedoria das nações, separar o trigo do joio." Ferry, A nova ordem ecológica, p. 173-174.
1. Defina a visão de mundo de Luc Ferry e sua posição em relação aos ecologistas e especialmente à ecologia profunda.
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